Feliz Dia dos Hipócritas!

Hoje é o dia daqueles que são coniventes com a violência sofrida por pessoas negras e pobres das periferias _ sendo eles próprios, em sua maioria, negros, pobres e residentes das periferias.

Hoje é o dia daqueles que acreditam que a violência tem uma razão para existir e tem legitimidade quando exercida pela polícia _ sendo que eles próprios sofrem a violência da polícia, seja nas periferias onde vivem, seja nos cárceres onde se encontram.

Hoje é o dia daqueles que negam a ciência, mas que acreditam cegamente num quadrúpede mitológico que jorra fezes pela boca.

Hoje é o dia de celebrar a memória de muitos daqueles que se foram na pandemia de Covid-19 e que morreram não pelo coronavírus, mas pela doença ainda mais perniciosa da ignorância.

Hoje é o dia daqueles que se julgam perseguidos _ sendo que eles mesmos são quem mais perseguem o pobre, o negro, o LGBT, a mulher…

Hoje é o dia daqueles que cobram a tolerância de todos, quando gritam sua moral nos espaços públicos incomodando a todos _ sendo que eles mesmos não toleram as diferenças de ninguém.

Hoje é o dia daqueles que condenam os teocratas islâmicos _ sendo que eles mesmos sonham em implantar uma teocracia no Brasil.

Hoje é o dia daqueles que pregam o velho “faça o que eu digo, mas não faça o que eu faço”.

Para todos estes sepulcros caiados, feliz Dia dos Hipócritas!

Mente vazia…

Lembro daquele velho ditado, “mente vazia, oficina do diabo”, e penso: “Que diabo preguiçoso esse meu”!

Minha mente parece um deserto. Um grande galpão vazio, pronto para ser preenchido com alguma coisa _ ainda que fosse uma diabrura do capeta _ mas, não! Meu diabo é preguiçoso e também cruel _ afinal é um diabo _ prefere me matar de tédio, dia após dia; ano após ano. Quantas coisas eu deixei para trás…

Quando criança, eu ouvia uns discos dos Beatles, do meu pai e empunhava minha guitarrinha de plástico para dublar, imaginando que um dia eu seria um Paul McCartney _ canhoto eu já era. Certeza eu já estava no caminho _. Depois cresci e fui aprender a tocar violão de verdade _ agora eu queria ser Raul Seixas…

Eu escrevia letras de músicas e melodias. E elas fluíam que era uma beleza. Cheguei até a fazer algum sucesso entre os colegas de faculdade. Faculdade de Comunicação e Artes…

Além de músicas, eu escrevia artigos e crônicas (meu estilo literário e jornalístico preferido).

Não sou muito de cultivar saudades. Mas aqueles foram bons tempos. Tempos criativos. Tempos em que a “oficina do diabo” operava a todo vapor! E se era mesmo o diabo, eu não sei (na verdade eu nem acredito que ele exista). Mas a parceria era boa!

Hoje não há mais música _ toco o mesmo repertório de 10 mil anos atrás (também, que culpa tenho eu se já não fazem mais músicas boas hoje em dia?) _. Também quase não há mais artigos nem crônicas _ veja o meu desespero de criar algo com esse texto aqui!

Às vezes desejo que o diabo volte logo de suas longas férias para botar essa oficina em pé de novo.

Enquanto isso, só me resta ir morrendo aos poucos de tédio…

Eu não tolero

Desde muito cedo eu aprendi uma regra muito básica: O meu direito termina onde começa o seu. O que isto significa? Que eu tenho direito de fazer o que eu bem entender, seja no espaço privado ou público (principalmente neste), desde que eu não invada e usurpe o direito do outro, impondo a minha vontade ou aquilo que eu considero certo.

Assim, eu tenho direito de ouvir a música que eu quero, quando e onde eu quiser, mas jamais na altura que eu quiser. Eu tenho direito de fazer festa para celebrar o que eu quiser, quando eu quiser, mas jamais onde eu quiser ou fazendo o barulho que eu quiser. Eu tenho o direito de falar e expressar minhas opiniões e crenças (ou até mesmo a ausência destas) da maneira que eu quiser, mas jamais sem antes ter a certeza de que eu não estou ofendendo ou importunando ninguém. Por que? Porque nem todo mundo vai gostar da minha música, vai curtir a minha festa ou vai concordar e aceitar aquilo que falo.

Dito isto, eu não tolero música alta. Eu não tolero festa barulhenta e interminável. Eu não tolero aqueles crentes que “pregam a palavra” em qualquer lugar. Minha vontade é pregar a língua desses desocupados que se acham os “santos dos últimos dias”. Outro dia, um vizinho fazia uma festa e já era alta madrugada. Bati no portão duas vezes, não fui atendido; chamei a polícia outras duas vezes, também não fui atendido. Fui até a caixa distribuidora de energia da casa dele e desliguei a chave geral. Desta vez fui atendido…

Quer ouvir tua música de mau gosto? Põe a porra de um fone! Quer comemorar ou chorar o chifre que levou? Não precisa fazer propaganda da sua cornice. Quer falar tuas mensagens de merda? Vai abrir tua boca no vaso sanitário, ora porra!

Eu não tolero! Tem gente que tem intolerância a glúten e lactose. Eu tenho intolerância a idiotas.

Black Fraude

Em meio às araras de roupas, passo os cabides um a um: Harry-Potter; Naruto; Bracking Bad; heróis da Marvel; heróis da DC… “Não fazem mais camisetas com estampas de banda?”, pergunto ao vendedor com cara de tédio. Sou, então conduzido à outra arara gigantesca: Charlie Brown Jr.; Billie Eilish; BTS; Xamã… “É, realmente não fazem mais camisetas com estampas de banda”, penso o alto e o vendedor entediado escuta. “Tem essa aqui, oh!” – me mostra uma camiseta com estampa de Bob Marley perdida em algum canto obscuro da loja – acho até que senti um cheirinho de mofo – e eu só queria uma camiseta legal, com estampa de uma banda legal que eu conheça. Mas percebo que estou ficando velho…

Desisto das camisetas e me dirijo à arara das camisas e até gosto de algumas, desistindo de todas no instante que vejo as etiquetas de preços. As camisetas também não estavam baratas e, caso eu decidisse comprar alguma, ficaria parecido com o Charles Harper. Daí constato que estou ficando velho e pobre…

Entro em outra loja e me dirijo ao mostruário de óculos de sol. Ray Bans, Hugo Boss, Prada, Versace… todos legítimos da 25 de Março, só que um pouco mais caros que os verdadeiros. Também desisto. Prefiro caminhar fazendo caretas ao sol. E um pensamento me vem nessa hora: “Velho, pobre e um pouco mais feio com as caretas que ando fazendo”…

Por onde passo, as lojas anunciam que a Black Friday é só na semana que vem. Por enquanto, só o que rola mesmo é a “Black Fraude“, momento em que as lojas triplicam todos os seus preços para venderem as mesmas bugigangas da 25 pelo preço normal na semana que virá.

O “gabiru vagabundo”

O celular de Lulih tocou por volta das 3h da madrugada do dia 12 de novembro. Todos sabem que esta é a “hora do diabo”. Nenhum telefonema a esta hora traz boa notícia. “Gino morreu”, disse ela ao desligar o celular. Sem falarmos mais nada, levantamos da cama, nos vestimos rápido e seguimos para o Hospital das Clínicas. Deitado sobre a fria pedra de mármore do necrotério, o corpo esquálido de ventre projetado repousava – parecia que dormia, como em tantas madrugadas que deve ter adormecido embriagado. Agora, embebido em clorofórmio, aguardava alguém da família para assinar os papeis da remoção para a funerária e, dali, para o velório e, por fim, o cemitério. Não havia ninguém da família. Do lado de fora do necrotério, de cócoras e em pranto silencioso, apenas a figura magra, sofrida de tantas noites sem dormir, da poeta Pat Andrade. Foi ela que, nos últimos tempos, cuidou de Gino até o último momento. Eram amigos de longa data, assim como Lulih. Eu não fui seu amigo. Não deu tempo…

A primeira vez que o vi foram três anos antes, no dia 22 de agosto, quando eu estava em cima do palco fazendo um show em homenagem aos 11 anos da morte de Raul Seixas. No meio do show, surgiu por entre as mesas do bar um “maluco beleza” trajando uma longa túnica preta e tênis brancos sem meia. Os cabelos grisalhos cacheados até os ombros, dançando de braços abertos e fazendo coro à música que eu cantava. “Sim, eu sou um imã pra gente doida”, foi só o que pude pensar na hora. Quando o show acabou, aquela figura esquisita que eu nunca tinha visto na vida já havia desaparecido e eu só reencontraria quase um ano depois, por volta de junho de 2011, na casa do poeta Aroldo Pedrosa, quando o reconheci no mesmo instante em que fomos apresentados um ao outro por Lulih – na época, minha namorada há pouco mais de um mês.

Depois disso, foram poucas as vezes que tive contato com Gino. Mas Lulih sempre falava dele como um amigo querido de muitos anos e aventuras.

Quando adoeceu – não sei bem do quê – eu e Lulih já estávamos casados e fomos visitá-lo no hospital. Algumas noites antes de ser internado na UTI, passamos pela sua casa e fomos dar uma volta de carro. Tomamos um sorvete – já que qualquer hipótese de bebida estava terminantemente proibida – e ainda tivemos o desprazer de sermos testemunha da indiferença de alguns “velhos amigos” que ele foi visitar e que, àquela hora da noite, não se dignaram sequer a atender a porta – se escondiam, por certo, para não terem que dar uns trocados “praquele vagabundo”…

Pois é, o “gabiru vagabundo” tinha morrido – agora aqueles que não lhes abriram a porta de suas casas podiam dormir o sono dos hipócritas sem serem perturbados…

Enquanto isso, eu e Lulih estávamos aos berros, no portão da casa de um de seus irmãos, o Caju, às 4h da madrugada, tentando encontrar alguém de sua família que fosse providenciar os trâmites de liberação do corpo. Depois de deixar o Caju no hospital, seguimos junto com Pat Andrade para a uma secretaria do Estado para tentar conseguir um caixão, pois a família não tinha condições de comprar. E aquilo tudo me fez pensar como somos nada quando já não podemos oferecer nada para os outros. O maluco com alma de artista, presidente vitalício do Clube do Vinil de Macapá, que encheu de vida a festa de tanta gente, agora estava ali, seminu, enrolado num lençol de hospital dos pés à cabeça, precisando de um caixão de indigente para ter um mínimo de dignidade em seu próprio enterro dali a algumas horas.

Como eu disse antes, nunca fui seu amigo, pois não deu tempo. Nunca o conheci de verdade – mas também talvez nunca ninguém tenha realmente o conhecido. Eu só sei que depois daquela madrugada fria; depois de passar o dia em seu velório escutando as histórias dos amigos sendo contadas às gargalhadas e lágrimas ao som das músicas dos vinis que ele gostava; e depois de seu enterro na terra árida do cemitério, a certeza que carrego nesses 10 anos “passados, presentes, vividos entre o sonho e o som” é a de que, afinal, ele tinha razão quando repetia a frase que mais gostava: “Besta é tu, besta é tu. Não viver nesse mundo”…

Eu não sou Goebbels!

Eu não sou Goebbels para fazer propaganda nazista, fascista ou – puxando “cá pra nós” – bolsonarista. Não senhor!

Não assisto aos seus filmes; não leio seus livros; não ouço seus discos, ou o que quer que seja. Porque, pra mim, arte é coisa séria. E, se a arte é uma forma de expressão humana, o “humano” por trás da expressão artística tem que ser, minimamente, gente.

Porque se eu já não consigo entender (quer dizer, até consigo, mas não vou me aprofundar nisso agora) pessoas em geral acharem normal apoiar as ideias de uma abominação “mitológica” que nega a ciência e as evidências históricas; que minimizou a gravidade do Coronavírus e cometeu diversos crimes de corrupção que ceifaram, por baixo, cerca de setecentas mil vidas em todo o país e que já deu provas de sua burrice generalizada ao emitir “opiniões” sobre temas como ditadura militar brasileira, união homoafetiva, armamento, imigração, etc. Agora imagina uma pessoa que se diz artista e defender um idiota que, durante quatro anos de desgoverno, dissolveu o Ministério da Cultura; reduziu para mais da metade o financiamento das artes no estados; censurou artistas; etc.!

Então, não. Eu não sou o Goebbels para fazer propaganda de tipos como esses que defendem esse tipo de coisa. Pra mim, o critério é o mesmo: Apoiou qualquer tipo de reacionarismo e suas perversões, eu corto laços sem pensar duas vezes. “Pra nunca mais”…

Voltar a escrever

Voltei a escrever. Obviamente que isso é uma grande pretensão de minha parte. Tá certo que sou jornalista formado há quase 30 anos, fui professor e alimentei o meu blog “A Vida é Foda” por muitos anos. Mas, porra, estou fora do meio jornalístico há quase 15 anos, mesmo período em que estou fora de sala de aula e o blog, apesar de curiosamente ainda ter bastante visualizações, estava parado há muito tempo e eu mal escrevia um post aqui e acolá. Inclusive este texto aqui é mais uma tentativa de voltar a escrever – atividade que sempre gostei tanto…

Outro problema de voltar a escrever: Sou casado com Lulih Rojanski, a melhor escritora do Amapá de todos os tempos – e não sou nem suspeito de falar. É a opinião de todos que a leem -. E também sou amigo de outros tantos escritores, poetas e jornalistas verdadeiramente muito bons. Então o fato é que muitas vezes, eu fico com uma inveja danada desses “feladaputa” que escrevem como quem faz uma lista de compras de supermercado (e olhem que eu respeito muito as listas de compra de supermercado que, para mim, são imprescindíveis!).

Mas a culpa dessa vontade toda de voltar a escrever tem nome e sobrenome: Folia Literária Internacional do Amapá. Sim. Este evento que aconteceu nos últimos dias 27, 28 e 29 de outubro teve como saldo positivo o fomento à cultura, a descoberta da literatura feita no Amapá para muitos jovens, a troca de experiências muito ricas entre autores locais e de outras terras, etc. Mas, especialmente para mim, a Folia me deu uma coceira danada nas mãos e, desde então eu fiquei com essa vontade de voltar a escrever minhas crônicas (meu gênero literário preferido) e meus artigos.

Garimpar preciosidades na feira de livros do Corredor Literário; participar das rodas de conversa com gente querida como Fernando Canto, Elton Tavares, Joãozinho Gomes, entre outros; aprender mais e mais nas oficinas de de contos, poemas e escrita criativa; ouvir as contações de história; viajar nas intervenções poéticas; voltar aos meus tempos de estudante e me comover nos saraus e recitais; comer cultura no Piquenique Cultural; tomar uma Gengibirra Literária e pegar autógrafos daqueles que eu admiro e, por fim, me embriagar em memórias afetivas ao som de Amadeu Cavalcante, Zé Miguel, Val Milhomem, Patrícia Bastos e Kleiton e Kledir – “Eu, hein! Nem pensar”… Nem pensar em perder a próxima Folia.

Pois bem. Espero que a minha empolgação não acabe tão cedo!

Por que mentimos?

“Eu não sei vocês, mas eu minto”! – diria Ariano Suassuna em uma de suas milhares de palestras proferidas pelo Brasil e imortalizadas no YouTube. E quem não mente?!

Mentimos deliberadamente para enganar o outro. Mentimos só pelo prazer de dizer falsidade. Cometemos o defeito da mentira para cobrir os defeitos da realidade – que nem sempre se veste com as mesmas aspirações dos nossos desejos. Mentir talvez seja a maior prova de que somos, verdadeiramente, humanos. Ao mentirmos, colorimos a narrativa cinza de nossas vidas vulgares e sem graça e surgimos como pessoas não melhores mas, melhoradas nas aparências – pois, afinal, o que importam são as aparências.

A moral e a ética filosóficas sempre debateram a mentira e chegaram a conclusões importantes – Mentira! Jamais chegaram a conclusão nenhuma. Porque não há o que concluir. Para Aristóteles, a mentira é uma violação da virtude da veracidade que, por sua vez, é uma parte da justiça. Portanto, a mentira é uma injustiça e uma forma de covardia. Santo Agostinho defendia a ideia de que a mentira é um pecado contra Deus, pois contraria a sua vontade e a sua natureza. Ela seria, por sua vez, uma obra do diabo, que é o pai da mentira e o inimigo da verdade. Finalmente, Kant, vê a mentira como uma violação do imperativo categórico, que é o princípio supremo da moralidade. Este imperativo nos ordena a agir de tal modo que possamos querer que a nossa máxima se torne uma lei universal. A mentira, porém, é uma máxima que não pode ser universalizada, pois se todos mentissem, a própria mentira perderia o seu sentido e a comunicação seria impossível. Nenhum deles, porém, esteve numa situação em que mentir fosse a única saída para salvar a própria pele ou a vida de alguém a quem se ama.

Ok. Mas vamos sair um pouco dos extremos e voltar nossa atenção para a mentira corriqueira, aquela que não é, de todo, um grande mal. Aquela em que o mentiroso mente, muitas vezes, por carência, para se sentir parte do grupo, ou – voltamos à definição primeira – para encobrir as falhas e defeitos da vida real.

Dia desses eu estava me lembrando de um amigo de infância, o Júnior Mentira – pois é, o desgraçado era o menorzinho da turma e mentia tanto (e todo mundo sabia) que a turma o apelidou assim. Certa vez, um outro amigo nosso voltou das férias de julho encantado por ter conhecido a cidade de Garanhuns, conhecida como a “Suíça Pernambucana” devido ao seu clima serrano, onde havia passado uns dias com sua família. Ele contava como a cidade era organizada e bonita: “Lá tem uma praça com um relógio de flores”… Ouvindo isso, na mesma hora, Júnior Mentira deu um salto e disse: “É verdade! Eu também já fui pra Garanhuns. E esse relógio é bonito mesmo. Um Quartz à prova d’água todo decorado de flor”… Uma explosão de gargalhadas. “Porra, Júnior! Um Quartz à prova d’água”?!, disse outro. Ao que Júnior retrucou com cara de desdém: “É claro! Você é burro? O relógio tem que ser à prova d’água pra não desmantelar quando chover”! Nova explosão de gargalhadas. O Júnior era desses.

Há poucos dias reencontrei um velho amigo de Campina Grande, numa dessas redes sociais e perguntei notícias da turma toda. Lá pelas tantas, perguntei: “E Júnior Mentira, que fim levou”? O amigo deu uma gargalhada e respondeu: “Virou vereador do PL. Tá preso e responde por espalhar fake news“. Rimos bastante e eu concluí: “Pois é. Mentira tem perna curta”!

Barbie, Oppenheimer e as velhas receitas da indústria cultural e do imperialismo americano

Desde o dia 20 de julho, ao pesquisar alguma coisa como “Barbie filme” no Google, você vê a “mágica” acontecer e sua tela fica cor de rosa; suas roupas ficam cor de rosa; sua casa; seu carro; você; sua mente… sua vida fica cor de rosa (só que não!).

Nas redes sociais, você vê Barbies de todos os tipos desfilando – a Barbie Barbie; a Barbie Velha; a Barbie Intelectual; a Barbie Trans; a Barbie Influencer; a Barbie Túricos… E os Kens, muitos Kens – o Ken Ken; o Ken Crosfiteiro; o Ken Farialimer; o Ken Karnal; o Ken Pondé; o Ken Patriota; o Ken Ticomeu… Tem para todos os (des)gostos.

Curioso que o filme norte americano foi lançado no Brasil um dia antes de estrar nos Estados Unidos – sinal de que o tempo passa, o tempo voa, e continuamos abrindo nossos orifícios (digo, a boca) para engolir o lixo gringo numa boa.

2023 está sendo um ano maravilhoso para a indústria cinematográfica hollywoodiana. Conseguiram – como há muito tempo não conseguiam – emplacar dois filmes recorde de bilheteria quase que ao mesmo tempo: Barbie e Oppenheimer (lançamento simultâneo, assim na terra como no céu, quer dizer, no Brasil e nos EUA) – a nossa sorte é que pelo menos se você pesquisa “Oppenheimer filme”, sua tela não corre o risco de sofrer uma hecatombe nuclear.

Mas porque estes filmes têm recebido tanta atenção a ponto de muita Barbie enrustida estar literalmente saindo da caixa (instalada em cada shopping center, grandes lojas, aeroportos, penitenciárias, hospitais psiquiátricos, igrejas, nas escolas, nas ruas, campos, construções…) e outro tanto de imitadores de Thomas Shelby estar agora tão interessado em física nuclear? Pra tentar responder, primeiro vamos falar um pouco de cada filme – e eu não estou nem aí se você ainda não se travestiu de Barbie ou de Peaky Blinder pra assistir a qualquer destes lixos culturais. Aqui tem spoiler, sim! – principalmente da Barbie.

Barbie é uma “comédia de fantasia” dirigida por Greta Gerwig (ela própria uma Barbie Filósofa), com o roteiro coescrito com Noah Baumbach, seu marido (o Ken Judeu do Mumblecore, aquele estilo de cinema novaiorquino com diálogos intermináveis). A “comédia” (hahaha) é baseada na franquia de bonecas Barbie, produzida pela empresa multinacional Mattel, dona de uma das produtoras do filme, a Mattel Films (exemplo clássico de como as corporações capitalistas se retroalimentam). O filme é estrelado por Margot Robbie (como a Barbie) e Ryan Gosling (o Ken).

O enredo se desenrola mostrando a Barbie Barbie e uma grande variedade de colegas Barbies que residem na “Barbielândia”, uma sociedade matriarcal onde todas as Barbies são autoconfiantes, autossuficientes e bem-sucedidas (uma espécie de Ilha de Lesbos capitalista). Enquanto os Kens Redpills passam seus dias em atividades recreativas na praia, admirando os corpos sarados uns dos outros, as Barbies ocupam todos os cargos importantes, como médicas, advogadas e políticas. O Ken Ken, namorado de Barbie Barbie, só fica feliz quando está com a Barbie e busca um relacionamento mais próximo pra tentar autoafirmar sua masculinidade frágil, mas Barbie o rejeita em favor da independência e das amizades femininas, mostrando quem é o macho da relação.

Durante uma festa, Barbie entra numa crise existencial e passa a se preocupar com a mortalidade. No dia seguinte, ela descobre que não consegue mais completar sua rotina habitual e descobre que seus pés ficaram chatos e ela tem celulite. A Barbie Cracuda diz a ela que para curar sua “doença” (sim, no filme, ser uma mulher normal é uma doença) ela deve viajar para o mundo real e encontrar a criança brincando com ela. Em seu caminho para o “mundo real’, Barbie encontra Ken (chato pra caralho) escondido em seu conversível e relutantemente permite que ele se junte a ela.

Chegando a Venice Beach em Los Angeles, Califórnia, o casal faz um monte de cagada e é preso. Então, como se já não bastasse estar ganhando dinheiro a rodo com a franquia, a Mattel faz merchandising dela própria, fazendo o seu próprio CEO aparecer como “vilão”, que ordena a captura dos bonecos fujões. Barbie rastreia sua dona, uma adolescente chamada Sasha, que já não brincava mais com a boneca por ter consciência (ora, vejam só, a menina critica o brinquedo por encorajar padrões de beleza irrealistas!). Perturbada com tamanha aberração (onde já se viu uma menina não querer imitar a Barbie!), Barbie descobre que Gloria, funcionária da Mattel e mãe de Sasha, é a catalisadora de sua crise existencial. Gloria é aquela mulher normal que se fode na vida trabalhando em jornada dupla pra sustentar, junto com o marido meia bomba a casa e a filha adolescente e que começou a brincar com os brinquedos de Sasha enquanto experimentava sua própria crise de identidade, transferindo para a Barbie toda a energia carregada de amarguras e desilusões que é a vida comum. Gloria e Sasha resgatam Barbie do CEO da Mattel e seus subordinados, e as três viajam juntas para a Barbielândia (sim, agora talvez elas possam ser livres num mundo de fantasia).

Enquanto isso, Ken aprende sobre o sistema patriarcal e se sente importante e aceito pela primeira vez (mas ele já não era tão bem aceito pelos seus parceiros de praia…). Voltando à Barbielândia, ele convence os outros Kens a assumirem o controle e as Barbies são subjugadas a papéis submissos, como empregadas domésticas, donas de casa e namoradas agradáveis. Barbie chega e tenta convencer Ken e as outras Barbies a voltarem a ser como eram, mas é rejeitada. Ela fica deprimida, mas Gloria a inspira com um discurso sobre os problemas de ser mulher. Com o incentivo de Sasha, Gloria, Barbie Cracuda e outras Barbies fora de “transe patriarcal”, libertam as diversas outras Barbies dos Kens. Elas manipulam os bonecos para lutar entre si, permitindo que as Barbies recuperem seu poder sistêmico e impedindo os Kens de alterar a constituição da Barbielândia para consagrar a superioridade masculina. Como concessão, os Kens recebem um papel menor na sociedade da Barbielândia.

Barbie e Ken pedem desculpas um ao outro e reconhecem suas falhas. Ken lamenta não ter identidade ou propósito sem a Barbie, ao que a Barbie o encoraja a encontrar uma identidade autônoma e parar de encher seu saco. Barbie, que permanece insegura sobre seu próprio propósito e identidade, encontra o espírito da co-fundadora da Mattel, Ruth Handler, que explica que a história da Barbie não tem um final definido e sua história em constante evolução supera a de suas raízes.

Barbie decide se tornar humana – mas mantendo o padrão Barbie de qualidade e… futilidade – e retornar ao “mundo real”. Algum tempo depois, Gloria, seu marido e Sasha levam Barbie, agora com o nome de “Barbara Handler”, à sua primeira consulta ao ginecologista.

Como se vê, o filme tenta trazer questões atuais sob o viés do existencialismo. O problema é que quando Hollywood tenta ser subversivo e autoconsciente (ou autocrítico) acaba soando falso como tudo que produz. O filme da Barbie, no final das contas, apenas se utiliza da velha receita da indústria cultural que é produzir conteúdos que agradem a todos, até mesmo aos seus críticos, pois eles também acabarão comprando seu produto. E é por isso que tem tanta gente elogiando o tal filme – não seria surpreendente se aparecessem no filme Barbies representando estereótipos de cada minoria. Simplesmente não enxergam que estão mais uma vez sendo manipulados por um produto de consumo que lhes agrada, que lhes massageia o ego e que os mantém em total estado de alienação.

Quanto a Oppenheimer, é um drama “histórico” (apesar dos erros crassos) dirigido por Christopher Nolan e baseado na biografia “Prometeu Americano: O Triunfo e a Tragédia de J. Robert Oppenheimer”, de Kai Bird e Martin J. Sherwin.

O filme é ambientado na Segunda Guerra Mundial e acompanha a vida de J. Robert Oppenheimer (Cillian Murphy, o Thomas Shelby de Peaky Blinders), um físico teórico da Universidade da Califórnia e diretor do Laboratório de Los Alamos durante o Projeto Manhattan – que tinha a missão de projetar e construir as primeiras bombas atômicas. A trama acompanha o físico e um grupo formado por outros cientistas ao longo do processo de desenvolvimento da arma nuclear que foi responsável pelas tragédias nas cidades de Hiroshima e Nagasaki, no Japão, em 1945.

Aqui a receita também é velha: Os norte americanos adoram se autopromover como salvadores e mantenedores da paz mundial. Mas enquanto os cinéfilos engolem a balela de que o filme traz reflexões importantes sobre o uso de armas nucleares – “este é um filme sobre consequências”, definiu Christopher Nolan – eu vejo como uma descarada justificativa; um auto aval do Tio Sam pra dizer ao mundo: “Olha aqui, se esses russos filhos da puta insistirem em ir contra os nossos interesses econômicos de aceitar a Ucrânia entre os membros da Otan, a gente vai meter bomba sim, porque somos os heróis da paz mundial” – e não é à toa que o Homem de Ferro está no elenco do filme…

Barbie e Oppenheimer são dois filmes de gêneros e enredos completamente distintos, lançados por Hollywood simultaneamente (assim como as bombas que quase destruíram o Japão). São duas bombas que atacam dois “fronts” distintos ao mesmo tempo: O dos que amam os discursos politicamente corretos e os amantes do “american way of life”.

Os filmes são vendidos como “rivais” pela mesma indústria. Criam uma falsa rivalidade que chega a ser infantil, entre as meninas que gostam de brincar de boneca e os meninos que gostam de brincar de guerra, a ponto dos próprios protagonistas de cada filme estimular os seus respectivos públicos a assistirem aos filmes no mesmo dia – uau, é uma guerra mesmo! O problema é que, enquanto as Barbies feministas enchem uma sala de cinema, os Kens Redpills enchem a sala ao lado. E o dinheiro de ambos vai para os mesmos bolsos. Jogada de mestre!

Recruta Zero escreve nota sobre intervenção militar

Parece que o Recruta Zero é a personagem por trás da redação do relatório das Forças Armadas sobre o Sistema Eletrônico de Votação (SEV) e da nota expedida hoje (11/11/22), às 7h da manhã, na página oficial do Exército Brasileiro.

Acontece que a presepada do tal relatório, com suas ambiguidades, gerou muita discussão e críticas ao caráter da instituição que, acima de tudo, deveria servir aos interesses do Estado e não ao governo. Então, chamaram o Zero de novo e mandaram que ele redigisse a tal nota para esclarecer os fatos.

A nota diz basicamente o seguinte:

1- De acordo com a Lei nº 14.197, de 1º de setembro de 2021, “Não constitui crime […] a manifestação crítica aos poderes constitucionais nem a atividade jornalística ou a reivindicação de direitos e garantias constitucionais, por meio de passeatas, de reuniões, de greves, de aglomerações ou de qualquer outra forma de manifestação política com propósitos sociais”.

2- “Assim, são condenáveis tanto eventuais restrições a direitos, por parte de agentes públicos, quanto eventuais excessos cometidos em manifestações que possam restringir os direitos individuais e coletivos ou colocar em risco a segurança pública; bem como quaisquer ações, de indivíduos ou de entidades, públicas ou privadas, que alimentem a desarmonia na sociedade”.

Só que, o que o Zero esqueceu de dizer é que, acima da Lei n° 14.197, existe uma lei maior que é a Constituição Brasileira e que, em seu artigo 34, estabelece em quais situações o Governo Federal pode intervir nas competências de um ente da federação, isto é, de um estado ou do Distrito Federal. A possibilidade de intervenção federativa – principal reinvindicação das manifestações que perturbam o Brasil desde o resultado das eleições presidenciais – existe desde 1891, quando foi promulgada a primeira constituição pós proclamação da República. Mas tem critérios rigorosos, de modo que, qualquer infração a estes critérios constitui crime.

Os manifestantes bolsofascistas, financiados por empresários interesseiros – como já vêm demonstrando as investigações da Polícia Federal nos últimos dias – esquecem que o Brasil é uma República Federativa, o que significa, na prática, que municípios, estados e Governo Federal têm responsabilidades próprias e AUTONOMIA em sua gestão e políticas, sem que um deles interfira nas atribuições dos demais. As exceções são APENAS:

1- Para coibir grave comprometimento da ordem pública, com o objetivo de garantir a incolumidade física, mental e dos bens das pessoas.

2- Para manter a integridade nacional, caso uma parte do país se declarar independente.

3- Para repelir invasão estrangeira ou de uma unidade da Federação em outra.

4- Para garantir o livre exercício de qualquer dos Poderes nas unidades da Federação, caso um deles esteja em risco.

5- Para reorganizar as finanças da unidade da Federação.

6- Para prover a execução de lei federal, ordem ou decisão judicial.

7- Para assegurar a observância de princípios constitucionais sensíveis, tais como: A forma republicana; o sistema representativo e o regime democrático; os direitos da pessoa humana; a autonomia municipal; a prestação de contas da administração pública, direta e indireta; e a aplicação do mínimo exigido da receita resultante de impostos estaduais, compreendida a proveniente de transferências, na manutenção e desenvolvimento do ensino e em ações e serviços públicos de saúde.

Fora isso, qualquer tentativa de intervenção militar ou federal (como querem os bolsofascistas) constitui GOLPE e é CRIME!

Mas o que é que o Recruta Zero quis dizer na nota? – Que as manifestações, desde que sejam pacíficas, são legítimas.

Então, partindo desse pressuposto, qualquer manifestação que reivindique crime, desde que pacífica, é uma manifestação legítima?!

Pera lá, Recruta Zero! Então, assim, se eu faço uma manifestação racista em praça pública; se eu peço ajuda de milicianos; se eu reivindico a liberação da tortura; se eu defendo o tráfico ilícito de entorpecentes, ou se eu faço uma manifestação pedindo o direito de cometer crimes hediondos ou atos de terrorismo, desde que minha manifestação seja pacífica, tá tudo bem? Tudo certo??? Porque, assim como a intervenção federal, todos estes crimes citados estão igualmente previstos na Constituição Federal! É isso mesmo que eu entendi, recruta Zero?!

Então, eu proponho que as Forças Armadas mostrem que ainda possuem alguma autoridade e parem de baixar cabeça para os atos insanos, perversos e indecentes do governo e declarem de uma vez por todas: NÃO VAMOS SER CONINVENTES COM NENHUM TIPO DE GOLPE. NÃO PERMITIREMOS MANIFESTAÇÕES CRIMINOSAS FINANCIADAS POR INTERESSES PARTICULARES. NÃO HOUVE FRAUDE NAS ELEIÇÕES DE 2022. PAREM DE CHORO E MIMIMI E VOLTEM AGORA PARA SUAS CASAS. VÃO PROCURAR UMA LAVAGEM DE ROUPA PARA SE OCUPAREM!

É isso. Anota isso aí, Zero!